sábado, 6 de janeiro de 2018

Retalhos da História- Vamos cantar as Janeiras e saborear o bolo-rei

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Associados à quadra natalícia, vamos encontrar as Janeiras e os Reis, que representam peditórios cantados na noite de Natal, de Ano Novo e de Reis. Herança provável das próprias strenas romanas, a entoação dos cânticos tem por finalidade receber dádivas que se revestem de um carácter alusivo e propiciatório, a remeter-nos, como noutras celebrações, para tempos remotos, em que se celebravam deuses e divindades pagãs ou eram pedidas ou oferecidas dádivas no início do ano comum, símbolo de bom augúrio, quer para quem as pedia, quer para quem as doava.
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O costume, espalhado ainda hoje por toda a Europa, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, entre outros, continua a celebrar-se, com os seus seculares cânticos de religiosidade popular e festiva. 

“As Janeiras” ou “Cantar as Janeiras” é também uma tradição em Portugal que consiste na reunião de grupos, homens e mulheres, que se passeiam pelas ruas no início do ano, cantando de porta em porta e desejando às pessoas um feliz ano novo. Ocorrem em Janeiro, o primeiro mês do ano. 

Supõe-se que esta tradição está relacionada com cultos pagãos, desenrolando-se no mês do deus romano Jano, de Janua, que significa Porta, Entrada. Esta figura da mitologia romana, representada com duas caras, encontra-se fortemente ligada à ideia de entrada, mas muito em especial, à noção de transição, de conhecimento do passado e do futuro.
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A origem da tradição de cantar as Janeiras não se pode, contudo, dissociar-se da penúria em que as pessoas viviam encontrando nesta, e noutras manifestações semelhantes, a forma de obterem uma dádiva, principalmente vinho e alimentos dos senhores abastados, sem que com isso se sentissem humilhadas. Por isto, cantavam as Janeiras num misto de religiosidade, atendendo à época em que são cantadas, e de ironia e mordacidade sempre com um apelo à dádiva de comes e bebes. No decorrer das cantorias eram invocados os nomes do dono e da dona da casa, e de alguma outra figura que tivesse preponderância familiar.
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Hoje em dia a tradição consiste num grupo de amigos ou vizinhos que se juntam, com ou sem instrumentos, no caso de os haver são mais comuns os folclóricos: pandeireta, bombo, flauta, viola, etc. Depois de o grupo feito, e de distribuídas as letras e os instrumentos, vão cantar de porta em porta pela vizinhança. Terminada a canção numa casa, espera-se que os donos tragam as janeiras - castanhas, nozes, maçãs, chouriço, morcela, etc. por comodidade, é hoje costume dar-se chocolates e dinheiro, embora não seja essa a tradição. 

Com a alegoria “até aos Reis é sempre Natal”, o dia de Reis, ou Epifania, traduz um dos mais relevantes episódios tradicionais associados ao nascimento de Jesus Cristo.
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A comemoração do Dia de Reis, celebra-se no dia 6 de Janeiro. Foram os Reis que batizaram o manjar cerimonial da doçaria alimentar desta data: o bolo-rei (espécie de pão doce recheado e enfeitado com frutos secos e cristalizados: pinhões, amêndoas, nozes, passas; laranja, figo, cereja, abóbora), cuja tradição se espalhou por quase toda a Europa e alguns países da América (particularmente América Latina), a resultar, supostamente, do bolo janual, bolo que os Romanos ofereciam e trocavam entre si nas festas do primeiro dia do Ano Novo. Ao bolo juntavam um ramo de verdura colhido num bosque dedicado à deusa Strena, ou Strénia. Do nome da deusa derivarão o vocábulo francês étrenne (que significa “presentes de Ano Novo”) e a palavra “estreias”, termo que, em certas localidades do nosso país, continua ainda a utilizar-se para definir o ato de oferecer presentes de “boas festas” (dar as “estreias”). 

Ao bolo janual e ao ramo de verdura acrescentavam os Romanos pequenas lembranças (tâmaras, figos, mel), com votos de bom ano, paz e felicidade. Este costume tornou-se depois mais exigente, acabando o oiro e a prata por substituir os singelos presentes. Em diversos países foi hábito durante muito tempo introduzir no bolo uma pequena cruz de porcelana (que se juntava à fava), substituída depois por minúsculas figurinhas humanas, tradição que se conservou durante muito tempo, aliada à expectativa de quem iria encontrar a fava ou o brinde.
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O bolo-rei está assim, carregado de simbologia, pois este bolo representa os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino Jesus. O bolo-rei terá surgido em França, no tempo de Luís XIV para as festas do Ano Novo e do dia de Reis. Alguns episódios marcaram a história deste bolo, nomeadamente, a sua proibição em 1789, em plena Revolução Francesa, obrigando mesmo os confeiteiros a mudarem-lhe o nome para “Gâteau dês sans-cullottes”. Em Portugal, após a proclamação da Republica, também existiram algumas tentativas para proibir o seu fabrico, mas sem sucesso. Se inicialmente, o bolo-rei era aguardado para o dia de Reis, ou suas vésperas, atualmente, já existem confeitarias a fabricarem durante todo o ano, ou pelo menos a partir de finais de Novembro até o dia 6 de Janeiro. 

“As paixões não se contam, provam-se. As vivências nem sempre se perdem, experimentam-se, permanecem, saboreiam-se.”
Fonte: Soledade Martinho Costa, 2002, in http://news.fm.ul.pt

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