sábado, 11 de março de 2017

Carolina Beatriz Angelo - Mulher coragem

No âmbito do Dia Internacional da Mulher, recordamos Carolina Beatriz Ângelo, a pioneira na conquista do voto para as mulheres, tanto em Portugal, como em toda a Europa Central e do Sul. Assim sendo, Carolina marcou a História através da sua luta pela igualdade de direitos, tendo, nas eleições de 1911, conseguido o acesso ao voto.

Retrato restaurado por João Pena Fonseca - www.joaofonseca.com
Um pouco de história...


Médica, republicana e feminista, Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda, em 1877, tendo terminado o seu Curso na Faculdade de Medicina de Lisboa, no ano de 1902, facto este que, desde logo, a caracterizou como sendo revolucionária, progressista e inovadora, isto na medida em que, para além de ter sido, como já falámos, a primeira mulher a ter acesso ao voto, foi, de igual modo, a primeira dedicada à prática cirúrgica, tendo sido especializada em ginecologia.

Ao longo da sua vida, Carolina Beatriz Ângelo foi conciliando a sua atividade profissional com um desejo intenso de intervir política e socialmente na sociedade, tendo tido, como seria de esperar, um sucesso inigualável. Foi uma das principais ativistas da época, defensora dos direitos das mulheres, tendo lutado por causas como a emancipação das mulheres e o sufrágio feminino.
A sua militância em organizações deste género desenvolveu-se a partir de 1906, no Comité Português da Agremiação Francesa, La Paix et le Désarmement par les Femmes, tendo-se iniciado, no ano seguinte,  na Maçonaria - sociedade secretista associada à filosofia, ao progressismo e à filantropia - ano em que esteve, também, envolvida no Grupo Português de Estudos Feministas, cuja finalidade era a de propagar o movimento feminista, tornando as mulheres portuguesas informadas, através da edição de livros e folhetos. Em 1909, fundou, juntamente com outras mulheres, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, defensora dos ideais republicanos, do sufrágio feminino, do direito ao divórcio, da instrução das crianças e de direitos e deveres iguais para homens e mulheres.

Na revolução de 5 de Outubro de 1910, foi ela quem colaborou na confeção das bandeiras hasteadas, cargo da qual foi encarregada por Miguel Bombarda. 


Bandeira içada no dia 5 de Outubro de 1910 na Câmara Municipal de Lisboa
Imagens do Livro "Heróis do Mar - História dos símbolos nacionais"
Já depois da Implantação da República, esteve envolvida na fundação da Associação de Propaganda Feminista, em Maio de 1911. Esta associação, que chegou a dirigir, teve origem na cisão da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, por questões relacionadas com a tolerância religiosa e o sufrágio feminino. No âmbito da Associação de Propaganda Feminista, projetou a criação de uma escola de enfermeiras, o que é referido como mais uma manifestação da sua preocupação com a emancipação das mulheres.

Entretanto, foi por volta desta altura que Carolina Beatriz Ângelo votou pela primeira vez, uma altura em que o direito de voto era concedido, exclusivamente, a cidadãos portugueses "chefes de família", com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever, o que levou a que Carolina Beatriz Ângelo, devido à ambiguidade da lei e ao facto de trabalhar, de ser viúva, e de ter, a seu cargo, uma filha, lutou, persistentemente, pela defesa do seu direito. Deste modo, votou no dia 28 de Maio de 1911, em Lisboa, para eleição dos deputados da Assembleia Constituinte, ato amplamente noticiado em Portugal e felicitado em diversos países do mundo pelas associações feministas. Porém, não se previa que este marco se voltasse a repetir, pois, em 1913, a lei eleitoral portuguesa foi alterada, consagrando o direito de voto, única e exclusivamente, a cidadãos portugueses do sexo masculino.
Foram passados mais de 60 anos, no Golpe de Estado de 25 de abril de 1974, que a lei foi, novamente, modificada, tendo a Legislação Portuguesa permitido a todas as mulheres o direito de voto.

Assim, podemos concluir que Carolina Beatriz Ângelo foi, sem dúvida, uma mulher que, ainda hoje, permanece na História não só de Portugal, mas também, de todo o globo, com um percurso interrompido pela sua morte prematura ocorrida quando tinha, apenas, 33 anos, no dia 3 de Outubro de 1911, devido a uma síncope cardíaca. Atualmente, encontra-se sepultada no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Para saberes mais:



Para os mais pequenos, aqui fica a sugestão de leitura - Obra de José Ruy com o apoio científico de João Esteves:



A Equipa da Biblioteca Escolar

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