No âmbito da atividade "Retalhos da História" publicamos o texto "O Regicídio" sendo que, no passado dia 1 de Fevereiro, fez 110 anos do acontecimento.
O Regicídio
Testemunho de D. Manuel II
Um pouco depois da 4 horas saí do Paço das Necessidades num landau com o visconde de Asseca em direção ao Terreiro do Paço. (…) Finalmente chegou o barco em que vinham meus pais e meu irmão. Abracei-os e viemos seguindo até à porta (…), entrámos para a carruagem os quatro. No fundo a minha adorada Mãe dando a esquerda ao meu pobre Pai. O meu chorado Irmão diante do meu Pai e eu diante da minha Mãe. O que agora vou escrever é o que me custa mais: ao pensar no momento horroroso que passei confundem-se-me as ideias. Que tarde e que noite mais atroz!
Saímos da estação bastante devagar. (…)
Eu estava olhando para o lado da estátua de D. José e vi um homem de barba preta com um grande Gabão. Vi esse homem abrir a capa e tirar uma carabina. Estava tão longe de pensar num horror destes que disse para mim mesmo: «Que má brincadeira.» O homem saiu do passeio e veio logo pôr-se atrás da carruagem e começou a fazer fogo. (…) Logo depois de o Buíça ter feito fogo (que eu não sei se acertou) começou uma perfeita fuzilada como numa batida às feras. (…) Saiu debaixo da arcada do Ministério um outro homem que desfechou uns poucos tiros à queima-roupa sobre o meu pobre Pai. Uma das balas entro pelas e outra pela nuca, o que o matou instantaneamente. (…) Depois disto não me lembro quase do resto: foi tão rápido! Lembro-me perfeitamente de ver minha adorada e heroica Mãe de pé na carruagem com um ramo de flores na mão gritando àqueles malvados animais: «Infames, infames.»
A confusão era enorme. (…) Vi o meu Irmão em pé dentro da carruagem com uma pistola na mão. (…)
De repente, já na rua do Arsenal, olhei para o meu queridíssimo Irmão. Vi-o caído para o lado direito com uma ferida enorme na face esquerda, de onde o sangue jorrava como de uma fonte. Tirei um lenço da algibeira para ver se lhe estancava o sangue. Mas que podia eu fazer? O lenço ficou logo como uma esponja. (…)
Eu também fui ferido num braço por uma bala. (…)
Agora que penso neste pavoroso dia e no medonho atentado parece-me e tenho quase a certeza (…) que eu escapei por ter feito um movimento instintivo para o lado esquerdo.
Diário de D. Manuel II
Transcrição de Extractos das «Notas Absolutamente Íntimas» d’El-Rei Dom Manuel II de Portugal, 21 de Maio de 1908
Fig. 1:
Le Petit Journal, de 19 de Fevereiro de 1908: D.
Amélia e o filho sobrevivente velam D. Carlos e D. Luís Filipe.
|
Para completar a informação, podes visualizar o video:
Boas leituras!
Nenhum comentário:
Postar um comentário