“ O
racismo é relacional e sofre alterações com o tempo, não podendo ser
compreendido na sua totalidade através do estudo segmentado de breves períodos
temporais, de regiões específicas ou de vítimas sobejamente conhecidas– negros
ou judeus, por exemplo.”
Francisco Bethencourt, Racismos. Das Cruzadas ao século XX
No dia
vinte e sete de Janeiro evocamos a memória dos que sofreram a morte e a tortura
nos campos de concentração alemães.
Esta evocação não deve servir para, através de
um exercício memorialístico e de ligação afetiva às vítimas, esquecermos as
condições históricas que permitiram que tal acontecesse.
Nas evocações há a tentação para vermos neste
acontecimento algo que foi perpetrado por uns quantos lunáticos, quais
monstros, e que, por conseguinte, o exorcismo praticado nestes
dias será o suficiente para que não volte a
acontecer. Acontece que está a acontecer! Nós, as pessoas “normais”, sem
patologias nem radicalismos, somos os fazedores destes acontecimentos. Ontem e
hoje.
A consciencialização das nossas ações torna-se,
assim, um imperativo e isso só é possível com o conhecimento das circunstâncias
históricas em que pessoas "normais" participaram nesta matança.
O conhecimento histórico permitiria, talvez, que
hoje não assistíssemos às perseguições e genocídio de populações, como
acontece(u) na Sérvia, na Turquia ou na Síria, para não falar da nossa responsabilidade
como Europeus, das mortes no Mediterrâneo.
Os sentimentos pessoais, de identificação com as
vítimas, que se pretende com esta evocação, só pode ter significado se se
transmutar em ação política, não permitindo que se criem situações económicas e
sociais suscetíveis de exacerbar a repulsa pelas minorias, que nos servem como bodes expiatórios.
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O Professor Fernando Nunes
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