sábado, 25 de novembro de 2023

Poema "Lágrima de preta" de António Gedeão

O poema “Lágrima de preta” transmite-nos uma mensagem profunda e uma lição cheia de humanismo.

Em 1961, Rómulo de Carvalho (pseudónimo de António Gedeão), publica o livro Máquina de Fogo, do qual faz parte o poema "Lágrima de Preta", que seria musicado por José Niza, e cantado por Adriano Correia de Oliveira, em 1970.
Apesar de a canção ter sido proibida pela censura na altura do início da guerra colonial, o poema permanece um dos mais magníficos hinos à igualdade, sem sinais de negro, nem vestígios de ódio.




Lágrima de preta


        Lágrima de preta
        Encontrei uma preta
        que estava a chorar,
        pedi-lhe uma lágrima
        para a analisar.


        Recolhi a lágrima
        com todo o cuidado
        num tubo de ensaio
        bem esterilizado.


        Olhei-a de um lado,
        do outro e de frente:
        tinha um ar de gota
        muito transparente.

        Mandei vir os ácidos,
        as bases e os sais,
        as drogas usadas
        em casos que tais.

        Ensaiei a frio,
        experimentei ao lume,
        de todas as vezes
        deu-me o que é costume:

        Nem sinais de negro,
        nem vestígios de ódio.
        Água (quase tudo)
        e cloreto de sódio.

António Gedeão, "Poemas escolhidos", Lisboa, Sá da Costa, 1997


Um poema que nos remete à ideia de racismo e de ódio que existe entre culturas. "A lágrima de preta" é representativa de toda a humanidade e diz-nos que todas as lágrimas são iguais. Através deste poema, o autor mostra claramente que condena veementemente o racismo e  luta pela igualdade de direitos.


Quiz  do poema aqui.


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